Numa palavra, em meio a tanta anormalidade uma ou outra aberração extra tão somente é bobagem! E assim começa - e termina, ora pois! - este episódio em minha desventurada existência; fato corriqueiro, chavão de inúmeros que, assim como eu, vivem frustrados com a regularidade da vida ordinária. Hoje travei conhecimento com o grande ídolo. Impossibilitado estou de o nomear “pemba”, “anhangá”, “cabrunco”, “canheta”, “cão”, “cujo”, “dianho”, “malino”, “romãozinho”, “pé-de-cabra”, “tinhoso” etc. e o diabo a quatro!, já que sempre ouço os termos prolixo, faltas de tom e eloqüência dirigidos à minha pessoa quando lanço mão de certas particularidades. Portanto, hei de ser simples - malditos, todos vocês, eh eh eh!
O diabo em pessoa veio visitar-me...
“Oh, mas que novidade!”
Sim, senhores, é bem verdade, isto para a maioria aqui não é sinônimo algum de ação, dinamismo ou o quê - unicamente o trivial, quiçá o obrigatório! Vá lá, vá lá, permitam-me, no alto de minha insignificância, discorrer em palavras a minha experiência... E com brevidade, eu lhes prometo!
Pois bem, sem maiores introduções, a peleja se iniciou assim: cá estava eu a lamentar dilemas, anelos, estreitezas, desencontros, limitações, isolamentos - e a falta de dinheiro, fama e reconhecimento, outra obviedade! -, e então, num átimo imperceptível, surge-me tal bizarro indivíduo, ainda que suntuosamente bem vestido. A perna de cavalo, os chifres, a pele vermelha, o olor sulfúrico etc., e tudo o mais que todos vocês, ilustríssimos senhores, já perderam os cabelos de saber - mas nunca o interesse, quá-quá-quá! Sem nenhuma cortesia, arrancando-me a porta de entrada, veio e sem mais nem mais, perguntou-me:
- Ora, seu infeliz, lume do fracasso humano! Que diabos você tem contra meu respeito? O que diabos eu lhe fiz para tanta desaprovação? Vá, pois, que eu não tenho o dever de agraciar a todos com minha presença e ideais, mas você, você!... Aos diabos, você e sua inútil opinião! Passar bem!
E tal qual adentrara em meus parcos domínios, esse riquíssimo fidalgo, altivo, elegante, deixou-me sem direito sequer de réplica. Quanta arrogância, quanta falta de originalidade!... Sinceramente e francamente, eu esperava muito mais desse serzinho que lidera e inspira não menos que uma caterva ávida por sobrenaturalidades! Qual é? Não passa de mais um a reclamar da vida alheia, eh eh eh!
Mas é sempre assim: a expectativa, boa ou ruim, exacerba por demais a realidade. E mais uma noite comum me tomou de assalto - nem o diabo, nem o diabo fora capaz de enaltecer a minha essência! A total ausência de ação em meus atos, dizeres e pensares, tudo permanecera no mesmo lugar...
E a mim restar-me-ia tão somente a insônia costumeira, a intrínseca vontade de me explicar, explicar-me até me exaurir as energias. Mas não aqui, não para esses ouvidos e olhares; pois aqui, meu único direito é a laconicidade.
Mas, não obstante, amanhã, amanhã tudo haverá de ser resolvido; vocês, o diabo, a falta de tom - e os meus contos inacabáveis!...
P.S. Texto originalmente postado na comunidade (orkut) Novos Escritores do Brasil. O tópico do texto, assim como todo o enredo prévio da criação do próprio, ainda se encontra em tal comunidade - é pelo menos o que imagino, eh eh eh!