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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Intermédio

Esses caminhos, senhores, esses caminhos pelos quais alento e desespero se perdem e se cruzam feito dia e noite - ah!, como tudo isso é tão imprevisto... Há pouco tempo, há muito pouco mesmo, encontrava-me a salvo. Uma condição tão somente, é bem verdade; mas, não obstante, um abrigo. Dava-me por sereno. Efemeridades, no entanto - jamais conseguira dormir de fato. A chuva não mais me alcançava, mantinha-me vivo e quente... Os olhos, apenas os olhos deixavam escapar fagulhas de minhas insustentáveis inquietações.
Dias distantes, dias distantes de mim. Por mais recentes que sejam passados e recordações, hoje, senhores, os dias se mostram controversos. Incertezas, inviabilidades... Pois bem! Sei nada do amanhã - nunca o soube na verdade. Sigo constante em solidão. (Os olhos venceram a calma artificial...) Tardes, noites, manhãs; desfiz-me das distinções. Não há mais volta, feito minhas idades perdidas... Tanto tempo, senhores, tanto tempo! Afinal o que há de errado em mim? Será o paladar - ou as palavras incontidas? Faz mal não, faz mal não! Enquanto houver um coração, seguirei mesmo constante (ainda que em solidão)...
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Semana dessas a encontrei, assim, sem mais nem mais. Saía de uma loja de roupas; olhava as horas num relógio imaginário. Finalmente abriu a própria bolsa - procurava pelo aparelho celular. Diante de ensejos tais, sentia-me sempre embaraçado, como se minha presença gerasse um incômodo - um pequeno distúrbio, uma ânsia e uma desnecessária espera. Aguardara pelo desfecho daquela cena; andava refreando cada um de meus passos... Ela levantou a cabeça e mal me reconhecera. Não obstante, o sorriso, o sorriso já disposto em mãos. Num átimo, feito arco-íris, sua consciência emergira da introspectividade de sua busca pela ciência das horas. Aí, senhores, aí, numa palavra, fora agraciado com um sorriso ainda maior - o mais pontual de todos os sorrisos. (Ela sabia muito bem com qual deles se vestir...)
Fazia da vida desprendimentos. Leve. Responsável. Bela. Presente. Ria tristezas, bebia alegrias. Assumia sinceridades. Uma loja de roupas, senhores... Mas, não obstante, largara-as todas, as sacolas, ao me reconhecer. Um abraço. Simplesmente um abraço que, feito preces e magias, devolvera-me os dias - as distâncias. Uma palavra - ou duas - e nada mais apresentar-se-ia condicional.
- Olá, meu amigo!...
Desarmara-me as aflições. Equívocos, expectativas, tudo se transformava menor. Ela, a brandura, os sorrisos, os olhares - nuances de simplicidade... Fizera-me paz; das infelicidades, diversões. (Naturalidades.) Uma beleza natural, uma inefável beleza natural...
- Escute, não quer ajuda, moça?
- Ah!, mas eu já sei que a tenho... Aonde for, não é verdade?
(Sim, é bem verdade...)
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Mas, não obstante, incertezas... Inviabilidades. Ao fechar os olhos, a vida parece querer contrariar todos os meus controles. Virtuais influências. Cravo os pés sobre o chão - dentes cerrados; uma respiração ofensiva. Ergo minhas vontades. (Ainda que improvável...) Dos instantes faço eternidades espontâneas; das horas, senhores, das horas, fotos e documentos. Desconheço no momento rumos e trilhas - apenas sigo adiante.