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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pleno

Pois, senhores, não há mais nada aqui a relatar - as metades vazias destas linhas que atravessaram cerca de três ciclos anuais me deixaram os sentidos sem valor algum. É assim, meus senhores, trata-se do cotidiano um quê de vivências e intuições... Ao menor sinal de desleixo, e uma erradicação pontual no comportamento - e principalmente, digo eu, principalmente nas intituladas auto-análises - se é manifestada via o instrumento do acaso. Vida é janela; pois nuvens e nuances sempre nos aparecem - basta sairmos de nossas molduras e buscá-las. E pronto. Adeus, casulos!...
Este estimado espaço já não mais me oferta valia. Um ciclo por fim delimitado. Início e fim - o meio, senhores, o meio, por sua vez, ora vazio ora cheio. Pois bem. Vida que segue. Novidades à espreita. Discursos, ideais justificáveis. Muito bem... Muitíssimo bem. Feito água - flexível; mas, não obstante, plena. Não há mais nada, de fato, por aqui a fazer. Um novo caminho talvez... Jamais se sabe - não sem caminhada. Não importa! Pois eu vos grito, senhores: vou e não volto.
Adiante, adiante.
(Não se pode parar de lutar!)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Pentelha - Parte Dois (crônicas de um miserável)

Muito bem, meus senhores, muitíssimo bem!... A coisa ia de uma tal forma que já não havia mais o que fazer: servidão. Servidão e - no máximo orações, orações, digo eu... Ora, aos diabos!, isto jamais coubera a mim. Haveria de beber, de comer, de festejar, pois já se definira. (Uma louca, uma louca!)
- Venha, querido, venha me dizer as palavras corretas...
- De que mesmo se trata?
- A música, a música, peste!
- Ah!, a música... Que música então é essa?
- Eu desisto. Desisto! Leve-me embora. Daqui, sabe? Rápido! Daqui e de todo lugar... Leve-me embora. Está bem? Desisto, desisto!...
- Eu... Eu... Um minuto.
Levá-la embora. Num átimo, ela semi-adormecera debruçada na mesa, em pleno salão. As iguarias ordenadas acabavam de chegar, e minha dama só se fazia por dizer "desisto, desisto!". E não havia mais lugares para todos aqueles pratos... Meu deus, que papagaiada! Todo o local já se despertara para o nosso burlesqueado, e eu, meus estimados senhores, eu, vejam bem... Não sabia de fato o que dizer.
- Obrigado, obrigado. Um minuto, pois...
- Leve-me embora! Leve-me embora!
- Calma, querida, tenha calma... Olhe aí, todas essas tentaçõezinhas de delícias...
- Não as quero, não as quero! - e ela passara a derrubar aleatórios pratos e talheres ao redor. Tanto desperdício, senhores... Mas, não obstante, a vodca permanecia intacta. Mil diabos bêbados, malditos todos eles!
Uma pergunta de minha parte se faz aqui necessária, senhores: numa palavra, o que exatamente fariam em meu lugar? Pois eu havia decidido por levá-la mesmo embora; já não queria mais uma vírgula daquele lugar. Responsabilizara-me por todos os gastos - tão ébrio que me encontrava, sequer recordara a justa quantia. Ao fim do mês tudo revelar-se-ia, pois... Para quê a pressa afinal? Tormentos adiáveis - ilusórias condições de crédito... Que fiquem assim! Voltemos à encomenda principal. A princesinha então se transformara em rã. Que ridículo, digo eu! "Leve-me embora, leve-me embora!" Maldições intragáveis, ela não parecia ser assim... Catatonia! Que bela fanfarra, pois... E as recompensas? Ah!, histórias, nada mais que histórias - embaraços e histórias...
Ao chegar em sua humilde residência - nem tão humilde assim, é bem verdade -, enfim o desfecho áureo de minha peregrinação. Ela acordara, depois de ter praticamente desmaiado durante todo o trajeto de retorno. Que houvesse ficado desse modo, eu digo, entregue ao inconsciente inofensivo... O pior acabara por aterrissar.
- Então é isso, meu senhor?
- Assim como me requisitara. Está em casa.
- É isso, então é isso?
- Pois não.
- Quer-me assim, embora, de volta para casa? É esse o significado do seu desejo?
- Ora, mas... O que quer realmente dizer com tantas voltas, tantas charadas?
- Nada, nada! Eu desisto, desisto! Você não vale uma lágrima sequer... - e se desabara em pranto. Que coisa, meus senhores, que coisa, não?
- Mas como é possível? Que maçada!
- Não quero vê-lo mais! Suma daqui!
- Sim, sim, querida... Mas para isso você precisa sair do carro...
- Não saio, não saio!
- É mesmo uma louca. Uma louca!
- Eu lhe adoro, não percebe isso? Seu imbecil, imbecil... Adoro-lhe, grande imbecil!
Ah!, nisso estávamos de acordo, senhores, e como - um notabilíssimo imbecil! De onde saíra essa infindável dramaticidade? De quem originara tamanha culpa? (Já os encargos momentâneos... Sim, sim, um imbecil - um completo imbecil!)
Poupar-lhes-ei das partes mais ardilosas, pois se até hoje meus ouvidos me condenam pelas desnecessidades suportadas naquela noite - três horas, três absurdas horas de insanos monólogos fantasiados de argumentos e discussões... Ah!, nem eu acredito, senhores, nem eu acredito! -, então não serão suas ilustres atenções incumbidas de tamanho desprazer. Não, não, mil vezes não!... Três horas, jamais! Malquista noite de natal - e todo aquele desencontro!
- Escute, Catarina, eu não queria magoar-lhe...
- Imbecil, imbecil!
- Pensando melhor, mudo minha ideia. Digo-lhe que sim, que quero.
- O quê? O que você quer mesmo, hem, benzinho?
- Magoar-lhe. É isso. Sua louca.
- O que, o que, o quê? - foi justamente nesse momento que minha insólita acompanhante passara a chorar copiosamente. (Mais isso, senhores, ainda mais isso...)
- Saia do carro.
- Não... Não...
- Então eu saio. - Entregara-lhe as chaves e tudo mais, exceto minha dignidade. - Quem desiste sou eu, senhorita... Passe bem.
- Não... Não!
- Ah!, vá!
Desvencilhara-me de todas as suas artimanhas, fugido, maltrapilho e maltratado - derrotado por inefáveis carências alheias. Mulheres, tresloucadas mulheres... Preciso de um tempo - um tempo, senhores, um tempo e um refúgio. Que seja! Por outro milhar de inusitados demônios, eu juro que não consigo... E ela me parecia tão interessante... Sim, sim, meus senhores, existem gestos e curiosidades de diversas vertentes - mas a loucura, a loucura... Ah!, desta basta a minha, digo... Dias melhores virão. (Eu creio.)
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Pois bem. "Recomendo-lhes moderação nos desejos.", ele me dizia. "A mulher!, desconfiem dela.", ele me insistia. "Desgraçado de quem se abandona a um coração volúvel de mulher! A mulher é pérfida e inconstante." É isso. Muito bem. "Detesta a serpente por ciúme de profissão." Vejam que maldade!... Muitíssimo bem. "A serpente é a maior concorrente ao seu comércio.", ele me finalizava. Mais ébrio do que eu, é bem verdade... Mas, não obstante, dos sábios não se discorda; dos versos se extrai sentido. Em quê posso contradizer-lhe, meus queridos senhores? Nenhuma palavra sequer, hem, o que acham - muito bem... Não há mais nada a fazer. (Talvez um ou outro conto, talvez... Aos diabos, pois!)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Pentelha (crônicas de um miserável)

Meus estimados senhores, o relato que lhes apresento hoje é um tanto quanto estranho - não que os demais sejam menos incomuns, é bem verdade; mas, não obstante, trata-se de algo que me intrigara de fato. Coisa curiosa, senhores, coisa curiosa... Numa palavra, um pequeno bilhete confessado num guardanapo, que parecia - lembram-se de minha memorável noite natalina, não é mesmo? -, vejam bem, que parecia um alento incomparável, revestira-se numa tragédia; uma perfeita e perversa tragédia. Fatalidades, meus caros senhores, fatalidades... Justo eu, justo eu, digo, o mais vil e despudorado herói destas linhas de embaraços! Pois bem, nada é demais para se dizer que jamais será visto... Baboseiras, baboseiras!
Eis pois que expectativas foram criadas, embora a esperança seja algo de uma total inutilidade que, consoante às minhas conclusões pessoais, decidira há muito tempo esterilizá-la. Vejam bem, senhores, tão somente após três descompromissados dias daquele fortuito ocorrido é que resolvera pegar no telefone. Uma ligação, senhores, uma simples ligação juvenil. Vejam bem, vejam bem...
- Por que demorou tanto, hem? Achei que já havia me esquecido... - surpreendente, não? Essa priminha viera mesmo a calhar. - Já contei para todos!
- Como tem passado? Pois... Espera, contou exatamente o quê, criatura? - vejam bem, meus senhores, vejam bem...
- As suas artes, meu amigo. As suas artes e sua graça.
- Como pode? Que maçada... E sua graça, de qual se trata? É que não me lembro tão bem assim, sabe, as artes, a ressaca, os três dias afinal...
- Chamam-me Catarina, pois, na verdade, nunca precisei me chamar de fato, ih ih ih! - uma galhofeira, uma galhofeira!... Estranhezas. Pensando bem, era de se imaginar. (Poderia existir outra forma pela qual fosse eu capaz de despertar interesses, senhores, principalmente depois de uma vodcazinha ou duas? Improvável...)
- Ah!, sim... Catarina! Muito bem.
O quê dizer, senhores? Ela aparentava encantos (eu juro!), a pequena danada. Esbanjando coquetismos e sinuosidades... E eu, meus senhores, eu, bem, saltava de fanfarras a espalhafatos. Óbvio. Vislumbrara o primeiro prêmio. Já em nosso segundo contato, um encontro marcado. Um jantar, meus senhores, um jantar! Pois bem...
- Encontra-se admirável, minha prezada Catarina... Muito bem, muito bem! O que deseja fazer, minha querida, o que deseja fazer numa noite como esta, hem?
- Ah!, bondade sua, pois... Um restaurantezinho de nada, coisinha à-toa. Uma ou duas bebidas, uma e outra palavrinha aqui e ali, e estaremos bem. Sei de um lugar que... Bem, vamos, vamos!
- Pois não, Catarina, pois não... Tudo, nesta noite, tudo para você! - é preciso, senhores, um pouco de drama é sempre preciso, concordam?
- Só nesta noite? Ah!, não...
(Uma apropriada reflexão. Achava que não escutara bem aqueles últimos dizeres; "só nesta noite, só nesta noite?" - quanta pressa, quanta pressa! Uma surpresinha... Uma desconfiançazinha de nada. E, senhores, ao final de todo o romance, bem, um trauma e uma camisa-de-forças! Continuemos, continuemos...)
- Talvez não, digo... Veja bem, minha Catarina, ainda é cedo, digo... Hem! Mas qual! Como a noite está convidativa, não? É melhor irmos logo... Para onde, para onde mesmo, hem?
- Para esta e aquela rua... Como disse, é uma coisinha de nada, querido, uma coisinha de nada! Não se preocupe...
(Sim, eu já estava preocupado. Muito, senhores, muitíssimo. Preocupado... A carteira, a carteira sempre me fora um problema. Vejam bem, pois, vejam bem...)
Ao alcançar a penúltima esquina, já previra minha sina. Aquele mês seria longo... Um mês inteiro, senhores! Tal jantarzinho custar-me-ia dois olhos da cara - e se houvesse mais, se houvesse mais... Deixemos de lado as obscenidades, pois! "Uma noite, uma única noite sua por minha vida..." - ou seria o contrário? Aos diabos! Eu já me sentia tão generoso... O bufão de sempre afinal. Mas qual, que nada! Prometi galanteios por toda aquela noite... Por favor, não se assustem, senhores, não se assustem, por favor. A vida é mesmo um cenário... É isso!
- Por gentileza, minha querida...
- Ah!, muito obrigada!
- Depois de você...
Aperitivos, pratos frios, doses requintadas - uma e outra idazinha ao toalete... Que noite, senhores, que noite! Muito bem, muitíssimo bem. Minha priminha sabia mesmo como viver. Abusos à parte, eu apenas sorria. Em tons apressados, é bem verdade. Mas, não obstante, tudo haveria de ser recompensado - pois quem consegue viver de fato sem essas tais recompensas, hem? Pequenas alterações emotivas, umas garrafazinhas vazias aqui e ali, e a coisa já se declinava para algumas leves inocentes libertinagenzinhas... Tudo muito fino, meus senhores, tudo muito fino. E a alturas tais, minha conta bancária já absorvia o golpe de forma anestésica... Quem se importava afinal? A paixão nos faz esquecer as maldades, assim como torna inevitável deixar de lado, na mesma medida, o altruísmo e quaisquer ponderações (estou correto, digo, corretíssimo, não, senhor Hugo?)... No momento, no momento eu não dava a mínima, meus senhores, a mínima!...
- Ah!, mas quanta diligência!... Eu quero me casar.
- Não entendi.
- Como?
- Simplesmente me ensurdeci. É incrível.
- Uma brincadeirazinha, meu querido, apenas uma brincadeirazinha de nada, ih ih ih!
- Ah!, sim, pois... Muito bem.
- Meu lindo!... Delícia, delícia!
Por deus!, senhores, por deus! - o que era aquilo? Por mil e um diabos celestes, pelos trezentos intragáveis espartanos!... O quê era aquilo? Troças, folgas, risotas - intenções obscuras, horripilantes sentenças. E a ebriedade então... Minha adorável Catarina já se mostrava uma autêntica borrachona. O quê dizer, o quê fazer em enseios tais? Pois, ah!, eu continuaria sem dar a mínima... Infortúnios! Mas, não obstante, começara a temer o próximo passo. O porvir... E os dividendos, senhores? Os dividendos, os dividendos, ai ai ai!
- Pois não.
- Pois não? Pois sim! Teça-me um elogio.
- Que danada...
- Perdão?
- Digo, Catarina querida, nada!... Nada, bem, nada far-me-á desistir agora...
- Do casamento?
- Maldição, hem!
- Ih ih ih!...
- O jantar, querida.
- E mais vodca, mais vodca!
Que coisa, que coisa, não, senhores? De fato, como voltar atrás? Daria um braço, três vísceras, oferecer-lhe-ia parte considerável de minha dignidade por aquela noite... Ah!, mas como é tão fácil condenar-me por nuances femininas! E o preço? Que preço, meus senhores, que preço! Num átimo inesperado, ela passara a cantarolar versos ininteligíveis. Supus que deveriam ser todos eles britânicos, embora parecessem mesmo aborígenes... Pecado, pecado!

Continua...

quarta-feira, 28 de março de 2012

Tempestade

Conhecera-a num dia qualquer, numa casa qualquer. Tratava-se de um convite em comum. Era de se esperar: os interesses mútuos atropelavam as formalidades... Saíram de lá, não tão tarde assim, entrelaçando mãos e olhares. Um novo casal anunciado. Fazia um imenso calor; a noite ainda não se dava por completa. Afãs, urgências, curiosidades. (E o acaso se vestira de risos e malícias...) Sentimentos juvenis - audácias maturadas.
Viveram dias impensáveis, confissões inefáveis e verdades inapagáveis. Um redemoinho no meio da rua. Plenitudes notáveis, explosivas vontades. Adivinhavam, um ao outro, razões e pensares. Atuaram unicidades, celebraram paixões - pretéritos assassinados. Presenciavam pores-do-sol; em seguida, insones madrugadas, rentes desejos. (Pelas manhãs, a exaustidão comemorada...) Faziam de uma simples refeição azo para enredados debates. Inocentes filosofias; toques, reflexos, beijos, olores. Marcas na areia - brisas na alma.
Eternidades de éter. Num átimo, assim como quem tudo quer e nada faz, despediram-se. Jamais tornar-se-iam a vir. Não havia motivos para ambos os caminhos - idas e retornos. Óbvio. As individualidades, as individualidades... Um fim súbito, premeditado. Linhas contadas de um diário. (Era mesmo o fim, brusco e necessário - o fim...) Uma nova e estreita manhã; uma inédita tarefa. Solitude. A leveza do ser reconquistada. (Desnecessidades evitadas...)
Com o devido tempo todos os vestígios se esfacelaram. Indiferenças de outrora. Seguiram adiante. Os dias, as horas, nada permitia as lembranças. Mas, não obstante, a pele carregava consigo relâmpagos e sobrepesos. Recordações tatuadas. Tão somente isto - e nada mais, nada mais... As ocupações se encarregaram das arestas. Semanas, meses, anos - inumeráveis quadros. Nomes, esquecimentos. Inércias... Harmonia. (Um filme antigo e vidas que seguem...)
E das palavras trocadas, dos pensamentos desditos, das promessas ousadas, sobrara-se unicamente o paladar. Olhos marejados de criança; saudosos sorrisos de ancião. E aqueles dias, todos aqueles poucos dias escondidos entre décadas de anuidades, dias nos quais liberdades se cruzaram - e gentilmente se afastaram -, aqueles ímpares dias ainda sussurram, calmos, quietos, hálitos de amor. Prazeres imortalizados em sentimentos e telefonemas perdidos. Plumas que se soltam e se vão com o vento. Naturezas incapturáveis. Um instante, um instante de júbilo. Vidas repletas de sentidos... Significados. Tempestade de impressões.
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"É bem verdade que todo passado naturalmente se torna meu inimigo. Inconveniências. A precisão da morte se faz aqui presente. É bem verdade, pois, que vivo apenas para ações e reflexões pontuais. Identidades. A obrigatoriedade do ser singular. Constâncias, desbravares - ciclos rompidos. Mas, não obstante, singelas relíquias de memórias ilustram minha estrada percorrida. Dos erros faço flores e versos; das saudades cumpro canções... E das páginas, das páginas lidas e vividas, conservadas em amarelo-claro, das páginas de acasos e escolhas, destas páginas teço tão somente gratidões. Sim, eu sei. (Não sou mais poeira...) Sou água, ar e dinâmica."

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Carnaval

E, quando nada mais possuía peso ou forma, logo após abandonos e desilusões, passara a presenciar novas paisagens. Um mundo previsto tão somente em nuvens, infantes expectativas (ele se acostumara tanto às realidades)... Era inacreditável. Bastaram-lhe sorrisos e humildades; pronto, eis o apraz desconhecido. Dúzias de curiosidades - pessoas, lugares etc. Dinâmica afinal... Via-se diante de inefáveis identidades. Seus pés e braços; conduzira-se em liberdade. (Perdido.) Encontrara um porto; coração e alma. (Novos propósitos...) Dias feito pétalas de rosas - sabores, olores. Despojara-se de todos os recentes pesares. Efemeridades. (Ainda assim, ainda assim, um quê eternizado...) Isenções de justificativas. Um porto - uma âncora.
Subira a rampa. Um pouco deslocado, é bem verdade, mas com os sentidos aguçados. Logo, como quem tudo quer e nada espera, deparara-se com inusitados caracteres. Celebração, música - localidades. Uma cerveja (ou duas). Sentia-se bem, folgado. Conversara dissertações e galhofas. A noite descia devagar. Permanecera até o fim. Surpresas, belas surpresas lhe gratificaram a presença.
Noutra noite, ensejos mágicos. Luz de ébano. Gracejos, mistérios, conquistas, entregas. Esquecera-se por completo. Raros, únicos instantes. Situava-se ali, sozinho, distante das obrigações - não, ele não estava só... De mãos dadas ao acaso, percorria calçamentos e esquinas noturnas. Brevidades. (Um prolongado estado de utopia.) Dançara o som dos abençoados. Céu de promessas, mar de gente... Uma chuva no fim, destemida. Ébrio, suave, benquisto. Concluso.
Pisara no terreiro, admirado. Permissões concedidas. Uma nova casa. Vestira-se dos hábitos comuns. Disparado. Brincara com fantasias e percussões. Agradecido. E por momentos dos quais unicamente se percebe subjetividades, momentos que fogem do ordinário, do indiferente, por momentos assim, ele, razão e descrença, pôde jurar ter visto estrelas, deuses e faíscas. Família. (Uma família desenhada, escolhida...)
Resolvera não dormir na última noite. Receavam-lhe os sonhos; optava pelos sentidos. Num quarto que, sem anos nem planos, ainda não acreditava em sua existência, permanecera de olhos em riste. Temera pelo retorno. Necessidades, tão somente necessidades... Ousados raios de sol, uma simples janela. Reminiscências. Convites... Uma certeza, uma única certeza. (Era chegada a hora...)
Já de volta, absorvendo conformidades, formulava máscaras e desculpas. Carnavais. Mas, não obstante, quando finalmente adormecera, palavras lhe criavam os devaneios. Intensidades. Tratava-se mesmo de um lar, um inesperado e idealizado lar. Palavras. Pensares e palavras. Nada mais que palavras.
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Respeite-se, idealize sua realidade, sinta sua felicidade, viva em música para alegrar a vida e lute por sua verdade...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Horizontes

O que vem a ser mais imprevisível, senhores, os fatos ao meu redor ou os atos que concebo? Ah!, mas que vida indomada... É mesmo, como dizem, o mundo à revelia! Não sei mais o que pensar ou dizer - e isto, isto em plenos janeiros... -; apenas teimo com as insistências. Feito coices e mulas. Um grande mentecapto. Vastidões inconquistáveis. É bem verdade, o amanhã me assusta clamorosamente.
Porque toda vez que elaboro planos, maldosos, eles costumam praticar-me os equívocos. Perguntas, perguntas - dúvidas afinal. Nada se faz por razões. Reflexos, reações, colisões. Ah!, esse mundo não vale o mundo, meus senhores... Mas, não obstante, aonde iriam as graças, caso dois e dois fossem mesmo quatro? Não! Recuso toda e qualquer segurança... Aos diabos com as tais garantias! O horizonte? Eu tão somente enxergo montanhas!... Travessia.
Se ainda me vestissem as juventudes...
Meu tempo não mais se encontra farto; sinto-me estreito. Fino. Estou diante da janela de um ônibus interestadual, enfrentando paisagens que não modificam em nada a minha indiferença. Irrelevâncias. Minha vida ordinária e arrogante descarta os significados. Disfarces. (Ora!, quem desejo enganar?) Resultados minúsculos, ínfimas capacidades. Ousadas utopias. (De longe, este não é o quadro que desenhei para mim...) Mas, não obstante, itinerários irrevogáveis. A estrada, sempre, mais próxima do fim.
Será mesmo que não acertarei uma vez sequer a finalidade de meus passos? Outro ano, outras histórias... A mesma condição. Montanhas em meus horizontes. Dias incompletos - metades inflexíveis. Eu ando, eu corro; eu me escondo em meus tropeços. Tortuosidades. Meus amores? Abandono. Minha gratidão? Limítrofe. Direitos? Feito nuvem que se desfaz. Vontades? Ah!, senhores, tais nunca me fizeram bem... Viver, viver é o que me resta.
Ao término da viagem, um novo dia. Doze horas de sono. Rotinas retomadas. A face da derrota. (Mas como é árduo, senhores, como é árduo aceitar o próprio tamanho...) Tardes e manhãs comuns. Noites inacabáveis; promessas insaciáveis.
No entanto - e isto se trata de algo tão curioso... -, no entanto, por mais contrária que seja a intenção, sonhos ainda se formam em meus sentidos. Sonhos de conforto, de expectativa - sonhos de possibilidades. Improváveis impressões, interesses inertes. Felicidades instantâneas. Uma fagulha, senhores, nada mais que uma fagulha... Vislumbro, inconsciente, um rosto conhecido - e gestos até então impensáveis. Uma brisa agradável me desperta. Imagens nítidas, sabores inconfundíveis. Um sonho, tão somente um sonho. Mas, não obstante, um alívio imediato. De fato, um novo dia...
É bem verdade, senhores, tais ideais jamais se concretizaram em minhas realidades. Porém, suas importâncias estão aí, perante meus olhos. (Um novo dia, não foi mesmo o que eu disse antes?) Às escolhas pertence o agora. Os fantasmas do passado - que eles permaneçam todos mortos! E os prováveis novos erros? Deles nada sei. Riscos, incertezas... Acasos benquistos.
Além de minha visão, depois de todas essas montanhas, o horizonte. (Sim!, irei falar com ela, ainda que desprovido de modos e tons...) Distante, o horizonte... Um novo dia, um novo ano.