Ela possuía uma vontade imensa de sair de casa. Faltava-lhe espaço, era o que dizia. Mais do que a falta de espaço, o desejo pela liberdade fazia as vezes de seu interesse maior. No entanto, não havia coragem sequer recursos para uma mudança, assim digamos, desse nível. Muitas coisas para lidar, a ponderar - afinal, dezesseis nunca foi uma idade simples...
Os pais a vigiavam de uma forma absurdamente intrínseca; não que isto fosse uma maldade da parte deles - provavelmente se tratasse de excesso de zelo, protecionismo. Ela era a eterna menininha, suscetível a todas as ofensividades possíveis e imagináveis que as forças alheias fossem capazes de cometer: ela nunca deixaria de ser a criancinha linda e intocável para eles. O fato era que ela não nutria condições de tamanha percepção do que realmente se passava com aqueles dois um tanto quanto inconvenientes; o seu protesto, portanto, era perfeitamente compreensível. Ah!, a juventude... Existe coisa mais equivocada e bela que o frescor dos joviais momentos de rebeldia e altivez presentes em uma coquete como essa nossa senhorinha?
Porém, como já disse antes, ela não reunia condições para tamanha liberdade. Não sozinha. E, coisa estranha, se não fosse sozinha, como haveria de ser? Afinal, assim não seria verdadeiramente o seu sonho; sim, ela era mesmo precoce. E é bem provável que justamente a impulsividade de seus atos e decisões é que a tornassem curiosa (algo ou alguém que produza intriga, e não um ser altamente provido de curiosidade, que isso fique bem claro). Ela atraía aos montes olhares ávidos por descobertas - e isso era um problema. Ela queria apenas a sua liberdadezinha, uma reserva, seguranças ao seu redor: somente assim, dizia para si, somente assim seria capaz de crescer e viver dentro de sua própria inconstância.
Um dia desses, Larissa - sim, este é o seu nome; perdão pela minha falta de tom em não dizê-lo apropriadamente -, a nossa pequena e intrépida sonhadora, saíra de casa. Não em definitivo; óbvio, isso não se realizaria tão cedo em sua vida. Saíra por aí, sem mais nem mais. Motivos não havia, obrigações, menos ainda. Ficara um dia inteiro fora, ou quase. Fazendo o quê, só deus sabe. Vira ruas, pessoas, vitrines, cachorros - nada muito interessante. Sentira-se corriqueira. Ao fim de tal dia, encontrara-se perdida. Em pensamentos, endereços e vontades. Sem rumo. Entristecera-se um pouco, uma leve melancolia que lhe invadia os traços juntamente com o crepúsculo rosa já presente e feito diante da paisagem de cidade grande. Decidira-se por voltar para casa.
No caminho de retorno, pensara com seus botões:
- Fui livre por um dia e me vi assim, sem motivos. Só. Despercebida. Será mesmo a liberdade, o ato de se perder plenamente... Será mesmo isto de que necessito?
Um leve sorriso soberbo brotara em seus finos lábios. Chegara em casa, abrira a porta de soslaio.
Um grito súbito fora a sua solene recepção:
- Filha, minha filha! Deus, por deus, onde esteve?, o que houve?, que cara é essa? Morri e nasci novamente, filhinha; por que fez isto comigo, com sua mãezinha? Ai, minha nossa senhora, eu choro e você ri... Em que está pensando, sim, em que está pensando, hem, meu docinho?
Um comentário:
Hahahaha, quem que já não teve 16 e não entende Larissa? Quem? Essas incertezas, essa vontade de liberdade, anseio por mudar a vida drasticamente... Eu lembro dos meus 16 (como se fizesse muito tempo hahahaha), e de certo modo ainda sinto as incertezas, os medos, os conflitos daquela época, mas digamos que lide com eles com um pouco mais de tato... ahuihduiahduha Adorei o conto, Sonny, saudade de ler os seus escritos, são sempre muito bons!!!
Postar um comentário