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quarta-feira, 23 de agosto de 2023

C’est la Vie


  Esta é a vida, senhores, esta é a vida. As grandes mudanças ocorrem num átimo – a preparação se trata tão somente de anseio por tamanhas tais… Mas, não obstante, as mudanças, - “Ah!”…, estas se fazem num estalar de dedos, num piscar de olhos (quiçá, num cochilo ou até num suspiro). Ou talvez como já afirmaram por aí: Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar (sic). C’est la vie!

  - Amor, deu positivo!… [fogos de artifício, estrelinhas, arco-íris, cobertura com piscina] … Agora não tem mais jeito, amor! Ele já está aqui, dentro de mim…

  Muito bem, muitíssimo bem! É o que vos digo, senhores, é o que sempre dir-vos-ei: atos raramente são e serão exclusivamente individuais, ao menos não para mim, eh eh eh! Pois eu admito que jamais fiz algo sozinho, quer seja lá qual a sua natureza, a desse tal algo… E, numa palavra, algo desse tamanho – é uma Vida, senhores, uma nova Vida! –, como poderia eu agir sozinho? C’est la vie…

  - Calma, meu bem, calma… Está tudo certo, tudo certo! Deus é mais, e você sabe disso mais do que eu! [ansiedades, desenhos, desejos, sonhos, devaneios] … É instintivo e natural. Você já é a mãe mais bela de todas!

  No entanto, o tempo – o emissário da Vida (a melhor imagem e representação Desta) –, maldoso por vezes, surpreendente, brincalhão, sério, implacável e racional… O tempo, meus senhores, o tempo corre leve e tenaz. Dias – e com dias, semanas – e horas que passam e que não parecem terminar. Uma espera; e com o tempo vem as novidades, as anunciações…

  - Amor, você ouviu o coraçãozinho batendo? Ouviu, amor? Ele está aqui, aqui dentro de nós! [chocalhos, bicos, fraldinhas, insônias, risinhos] … Deus abençoa, amor!, Deus abençoa.


X


  Feito o silêncio que precede o esporro, veio uma manchinha escura – um borrãozinho de meia pataca –, uma dorzinha no pé da barriga… - “Não é nada”, eu disse. Instantes de apreensão. Alguns dias e, sem mais nem mais, ele decidiu partir (tão cedo!). Aquele coraçãozinho já não quis mais bater…

  - Oh, meu bem! Não é justo, meu bem, não é justo… [presente amassado, entrega cancelada, desemprego, vazio, cobertura com infiltração] … Você não merece isso, meu bem, não merece!

  Mas, não obstante, esta é a vida, caríssimos senhores – C’est la vie!  Um sonho retido? Uma dor indizível? Pois eu vos afirmo: Uma saudade! Um filho embalado em todas as nossas certezas, em todos os nossos atos e em todos os nossos amores… Uma criancinha pequenina – tão pequenina! –, aninhada em nossas mãos… Uma caixinha contendo imensidões e eternidades. Uma mudança, uma grande mudança, senhores… E com ela, instantes e outros instantes – vapores, intuições, rotinas e roteiros. E é assim, senhores, por vezes nos vemos na rua, no meio do redemoinho… Cabe a nós (e tão somente a nós!) verter-nos de toda a poeira. O Tempo urge, senhores, e a vida – “Ah!”… a Vida é esta!

  - Vai com Deus, meu filhinho, vai… Seguimos daqui, cada um com a sua Metade do Caminho!…


(Dedicado a Augusto / Alice)