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sábado, 30 de janeiro de 2010

Experiência

Mais um fim de semana ligeiramente vazio, e como a minha proposta é sorver tudo aquilo que me é concedido, pois bem, assim me vejo em situação tal que exija de mim um quê de produtividade. E agora à noite, surgiu-me o momento ideal para iniciar uma experiência: um conto, uma narração em terceira pessoa, uma alma feminina. Uma linguagem tênue, um ambiente suave - ou seja, precisamente o inverso de minha essência. Mas, não obstante, um propósito e uma tendência. Até onde vai a minha aptidão para com as palavras e as reflexões, é o que me questiono - e esta faria as vezes de tal propósito - neste momento e em todo o sempre, provavelmente daqui em diante. E em segundo, conquanto não menos considerável, a eterna condição própria da dualidade - que por vezes inúmeras permite o confundir-se com a incoerência, a estranheza e a excentricidade. Pois bem, aos poucos a intenção de me revelar - ocultada na concepção fantástica de tais parágrafos, textos e idéias - perante a quem eu for hábil o suficiente em despertar intriga vai tomando importância maior... Perdão, senhores, perdão!, o meu orgulho e a minha vaidade me tolhe o acanhamento, eh eh eh! Todavia o meu respeito por vós me remete a tais explicações...
Portanto, ao trabalho... Ao trabalho, senhores!

P.S. Provavelmente tal conto será postado em partes, com o intuito de não vos gastar por completo a generosa atenção que é, porventura, por vós a mim atribuída. É isso.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Um Novo Começo

  Sim. Trata-se disto. É bem verdade que se faz por irrealizável o completo apagar de nossos atos, indiferentes sejam suas origens e razões. As consequências produzidas são igualmente do mesmo modo - inadiáveis e inevitáveis. Pois bem, senhores, pois bem! Não somos feito máquinas, aptas a reparos e formatações - e aí, havei de concordar todos vós, aí reside algo crucial e incomparável, algo que define a existência humana: a nossa memória. Ora!, vede bem, senhores, como se comportariam todas as evoluções sem essa capacidade das recordações? Mas, não obstante, a ideia não é essa... Tal vai além.
  Ainda que a história ostente o ofício de nos colocar em nossos devidos lugares, novos rumos são necessários. Os erros, os fracassos, as frustrações, tudo leva a um recomeço. Não haveríamos de suportar nossa própria condição se tal ensejo nos fosse vetado, se não houvesse uma alternativa ou uma saída qualquer. Tratar-se-ia de um imenso pesar a total ausência de uma segunda chance - um amanhecer e um novo dia -, uma nova luz em nossas vidas.
  Uma segunda chance... (Todos merecem uma segunda chance. Pensai bem nisso, senhores, pensai muito bem nisso!)
  Portanto, senhores, e um certo alguém em particular - alguém que, ainda que não confie na própria arte de mediar meus passos, meus fins e propósitos, determina, mesmo que de forma casual, minhas escolhas, meus pensamentos e minhas ilusões - cuja intenção desconheço neste momento, e que muito provavelmente também não a saiba, o que peço, melhor dizendo, o que imploro é justamente por essa outra via. Ainda que seja, quiçá, a terceira ou a quarta... Mas, não obstante, a minha redenção! E um novo começo, um novo começo é de que necessito agora.
  Pois bem. Este é o meu pensamento essencial: o direito de errar, o direito de aprender e viver. Isto, senhores, as falhas, as quedas e os temores, isto nunca será maior que nossa natureza - maior que tudo aquilo que buscamos, senhores, maior que o caminho que compomos, senhores... Jamais, jamais! E isso, apenas isso, basta, basta!... Desse direito que reclamo se faz o amor pela humanidade, pela singular existência e por toda e qualquer espécie de vida. E é aqui que assento os pilares de meu reinício, de minha salvação, meus senhores... (Sim, minha senhora, sim...) Ah!, como é tudo tão belo!...
  Doravante, novos atos, novos dias - ainda que o resquício de minha estultícia continue a me condenar perante tais olhares alheios.
  Senhores, meus caríssimos senhores - senhora minha, oh!, tu também... -, permiti este meu novo começo!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

(3) Fim De Ano

  Minha grande luta é saber domar os voos do pensamento, reduzi-los ao limite das ações. Assim e tão somente assim abandonaria de vez toda a aspiração àquilo que não sou - e que jamais serei. Mas, não obstante, confesso: meu egoísmo não admite a resignação, senhores, a conformidade. E, é bem verdade, caso não aconteça algo de extraordinário e fantasioso neste momento que urge, sinto que encontrar-me-ei fadado à eterna vulgaridade - e à revolta eterna...
  Fim de ano. Trata-se de uma época que, por natureza, remete-me às reflexões - a uma conclusão, ainda que mal executada. Em sua maioria, para mim, isso não significa aprazimentos. Por vezes, sobra-me tempo... Desnecessidades. E esse tempo, digamos assim, esse tempo obrigatório de sobra - e o acúmulo de pensares, ah!, todos esses pensares perturbadoramente incontroláveis... -, bem, eu o ocupo com atividades físicas. O esgotamento, senhores, o benquisto esgotamento corporal. Se não vejo com bons olhos atingir meus extremos emocionais, por ora, que eu alcance tais do lado de fora! Pois bem. Dieta, exercícios - e mais exercícios!, mais exercícios físicos... -, privações: ah!, os prazeres da gula e da preguiça... Faço destes os meus mais iminentes inimigos nesta hora íntima de fraqueza espiritual - dessa maneira, senhores, permito-me continuar a viver um pouco mais.
  Felizes são os que se contentam!... Com suas posses, suas capacidades (com elas e tão somente com elas); com as próprias limitações, afinal - felizes e satisfeitos com a mediocridade de simplesmente existirem e nada, nada mais que isso. Pois raros são os belos e os criativos, bastos de deleites; irritantemente raros e castos e odiados, todos aqueles agraciados por sabe quem ou o quê - divindades, mistérios etc. Possuem tais, meus, queridos senhores, possuem tais alguma espécie de tormento ou desassossego? Aos diabos todos eles!... Muito bem. Sim, é bem verdade, é possível que exista uma atribulaçãozinha aqui ou ali; mas, não obstante, jamais uma verdadeira mazela, algo digno de piedade e desgosto, algo assim de forma alguma ser-lhes-á infligido. Quando falecerem, farão parte da História - a eterna solidão não lhes está reservada. Apenas, assim como eu, apenas aos comuns, aos esquecidos, aos maltrapilhos - esmagados pelo Progresso... A estes, a felicidade não passa de submissão e renúncia. E, ademais - por deus e por todos os mistérios que haja por aí!... -, ademais eu juro, senhores, eu juro que seguirei recusando qualquer migalha ridiculamente oferecida em troca de minhas inquietudes!
  A semana passada me esgotou por completo. Insônia, restrições calóricas etc. A profissão, as minhas horas inúteis - a incapacidade de me livrar de certos incômodos... Ansiedade, intolerância. Preciso de férias, senhores, férias!... Mas, não obstante, o que fazer com elas? Insisto: o que fazer! Ceder espaço a todos os meus demônios internos? Dá-lhos asas, tornar de vez alada a minha caneta? Projetos, diversão, prazeres - quais, pois então, quais? Descanso - uma trégua... Não, não! Eu aspiro à minha obra! E esta, senhores, esta não me permite tais frivolidades. Muito bem, muitíssimo bem! Além do mais, momentos agradáveis não combinam com minha ordinária condição (ah!, como odeio tudo isso...) - sobreviver é preciso, meus caríssimos senhores; sobreviver realmente é preciso.
  Diabos!, mas onde estou com a cabeça? Pois a ideia não é essa, trata-se justamente do contrário... Perdão, meus senhores, mil perdões por sinal! A força do hábito se fez mais uma vez pioneira em minhas intenções. Mas, não obstante, de tudo isto se foi possível extrair minha plena sinceridade. Pois bem. Meu objetivo, senhores, a finalidade de tais equivocadas linhas era introduzir minhas considerações sobre o acaso, o inesperado etc. (Ao final - e quanto a isto, dou garantias de minha parte -, ao final tudo acertar-se-á!) Palavras imprevistas, nada mais que palavras imprevistas...

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  Pois bem, senhores, o porvir; sábado, domingo etc. E a minha condição, a mesma - nada, nada demais afinal. A não ser pelo acaso... E não tratar-se-ia de um quê excepcional, mas tão somente de outro ponto de vista (outro ser, outro pensar). Mais singelo, senhores... Puro, claro, inocente - sem ornatos ou enfeites. Talvez um novo conceito, quiçá uma possibilidade. Decerto que longe de meu alcance, é bem verdade. Mas, não obstante, um olhar - um olhar a me despertar respeito e indagação.
  Lamentos, chagas, aflições, tudo isso independe de requisitos para subsistir. Ainda assim, meus senhores, ainda assim as suas intensidades são mediadas por certas particularidades. A ignorância e a resignação as reduzem de modo considerável; a revolta e a inquietação surtem um efeito adverso. Não é costume de uma mente perspicaz tomar favores em semelhante discussão, pois esta possui, creio eu, a audácia de romper quaisquer restrições - sejam elas morais, sociais ou conscienciosas. E é justamente aí, senhores, justamente neste ensejo que me situo. Estagnado, torpe, perturbado. Privado de expectativas. E aqui chegamos onde desejara, com todas estas linhas sem sentido, conduzi-los: à necessidade da beleza, da curiosidade e de justas causas para almas irrequietas como a minha. (Um coração, senhores, um simples e novo coração...)
  Como semáforos que se abrem num repente em carreira, feito festa de última hora ou qual dinheiro encontrado em bolsos esquecidos, tal ensejo me ocorrera. E esse outro ser, esse outro pensar, do qual prima imagem se trata pela leveza, assim, sem mais nem mais, surgira em meu arredor. Alguém que, diferente de mim, despreocupa-se com tantos orgulhos, tantas vaidades. Alguém que, com tamanha singeleza, cabe unicamente em seus traços, seu lugar - e cabal assim se faz maior. Mulher, indivíduo, alma, imensidão, consciência/ consistência. Risos e sorrisos - e não mais que isso, senhores, não mais que isso.
  Tal encontro me fizera vergar, ocultando-me anelos e afãs. Semelhante criatura me instigara a crer em improváveis caminhos - talvez, senhores, talvez até confiar na Esperança!... Pois bem. E certo liame passara a ser visto como tangível: o encanto, as delícias, e a mim; meu ser, minhas ânsias, meus indagares, minhas impossibilidades...
  Ela simplesmente chega e diz, condescendendo, plena de si: “Oi!”. Um afago, um gracejo, e, tão claro e natural, germina-se um sol.
  Ingênuo, modesto, resoluto. Insólito.
  Fim de ano. O desfecho, senhores, bom ou vil, baldo ou préstimo. Mas, não obstante, de tal fim, compõe-se um novo preâmbulo.
  (Por deus, por que tanta lamúria?, para quê!...)

sábado, 16 de janeiro de 2010

(2) Discurso

Chove. Mais uma vez na semana, chove. Se ainda esta fosse útil para lavar o que há por dentro, senhores, eu haveria de suportá-la. Impossível, inviável, digo eu. Isso é sentença, fato - e fado. Hei de viver, conviver com a lama. Aqui não há notoriedade alguma, meus senhores, apenas solidão. Pertenço aos normais, ao povo; sufocado e abafado pela incrível e imensurável massa indigna de desconhecidos. Àqueles que nascem e simplesmente morrem. Sôfrego, côncavo, desprovido de fortunas e gracejos. Nenhuma particularidade, beleza ou talento. Fracassos, tão somente fracassos. Palavras e fracassos...
Todos os sonhos são ridículos. Ontem, minutos antes de dormir, veio-me em mente certo pensar - certo pesar, certo penar... Explico-me. Não pela necessidade - não mais, senhores -, porém unicamente pela total deselegância destes meus momentâneos atos. Coisa curiosa, justamente nas horas mais vazias é que cometemos as maiores vilezas das quais somos capazes de cometer. E apenas sob essa condição, senhores, vestindo o traje vil das desistências, ultrapassando normas e condutas, tão somente assim é que revelaremos a sinceridade e a complexidade de nossos interesses - a nossa essência, afinal de contas. Então, depois de todo o despojo e de toda a amoralidade que conseguirmos digerir, apenas depois disso é que seremos de fato verdadeiros - torpes, egoístas, rancorosos, vingativos. E quem não é, senhores... Pois bem, e quem não é assim?
Noite passada, diante de esperas e temores, presenciara o fim de mais um sonho, ainda que não o último - infelizmente, é bem verdade, restam-me outros, senhores, outros tantos mais... Um diálogo terminal e uma descoberta. Tudo envolto pela chuva mais enfadonha, incessante tal qual a angústia de longa data que me acompanha em noites insones como essa de ontem. Uma presença, senhores, uma constante presença em minha vida e um ideal - finados. Eu não sou de fato aquilo que ansiava ser. A consciência e o espelho jamais me trarão boas notícias. E o amor - e a paixão, e a idolatria, e a insânia... O amor não mais possui a propriedade de sustentar levezas em meu ser. Não há esperanças - assim como supostamente se define todo o mérito de minhas escolhas. Há apenas sobrevivência: asfixiada, sonegada, indesejada. O subsolo... Muito bem, muitíssimo bem! E tudo isto, senhores, tudo isto revelado numa só noite - tão somente numa insípida, inodora e descolorida noite.
Não, senhores, jamais a aspiração, a aspiração em si, esta jamais será a minha salvação. Eu não sou Fausto; eu não creio em deuses e anjos - mas unicamente no diabo, unicamente no diabo! O fato de ter desejado a imensidão, a grande obra, enfim, nada disto disfarçará minhas qualidades. E o comum e o vulgar tornar-me-ão como um todo. Eu seguirei longe, senhores, omitido do extraordinário, das ímpares conquistas. Um mero espectador - ou seria apenas um agente das suposições? Perguntas, reflexões vãs; nenhuma ação. Palavras que ninguém lê, sente, compadece ou compreende. E a revolta, ah!, a revolta, senhores... Por fim, o porvir - inutilidades, nada mais que inutilidades...
Imaginai, senhores, o amor personalizado de vossas vidas. A causa primeva. O ideal, o positivamente belo. Imaginai o propulsor de vossos atos, anseios e vontades. Conseguis imaginar? Pois bem. Vós ou quem mais for, seja qualquer um, ainda que por apenas um raro e irrepetível ensejo, qualquer um que houver de lidar com as eternas questões (o quê?, como?, por quê?)... Por fim chegáreis a uma resposta. E tal resposta, senhores, a única solução que haveríeis de encontrar - o insólito e grandioso sentido que faz o mundo, senhores, o vosso mundo, vede bem!, o ineditismo que faz girar as triviais engrenagens de vosso sistema -, por um acaso, feito mágica inefável e inesperada, num simples estalar de dedos, deixasse de existir. Fosse-vos negada, sem mais nem mais. O que fazer, senhores? Diante de tamanho desespero e tamanha cólera, insisto, o que fazer! Para onde ir? Onde!... Porque, havei de convir, para algum lugar todos, absolutamente todos devem ir - de fato!... E se não houver mais semelhante lugar, para quê viver?, para quê viver?... Aos diabos!, mas que chuva é esta, senhores?
Sob meu próprio olhar perscrutador, perante meu irrevogável estado de inquisição, vejo-me condenado a semelhante sentença: quem há, pois, de se lembrar de mim? Aos escombros, a isto pertence meu destino! Sou incapaz de ostentar a altivez, a arrogância - a petulância de quem desafia com desdém quaisquer precipícios... (O fim dos tempos.) Não, senhores, este não sou eu. A mim, tão somente o desespero. E onde, imploro-vos, onde estará aquela senhorinha de outrora? Longe de mim, ausente de meus direitos. Mais uma noite, mais uma noite!... Até quando, senhores, até quando haverei de suportar todo este fardo?
Mas, não obstante, deparo-me também descrente de todas as ilusões. Trôpego, confuso, é bem verdade. Que seja!... (Buscai a indiferença, senhores, buscai-a acima de tudo.) Pérfida liberdade, pungente e visceral paixão - eu amaldiçoo a todas! Vil consciência, malquista vontade. O diabo!, o diabo que lhes carregue - pois o amanhã, senhores, o amanhã pertence a ele e tão somente a ele... Mais ninguém, mais ninguém!
  - Um olhar, vilã de meu coração, eu não desejara nada além de um olhar teu, gélida e intrépida senhorinha. Vê-me e salvar-me-ei! De toda a imundície, de todo o populacho, de toda a compaixão. (Ainda que seja tarde, muito tarde...)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

(1) Carta

Esta não é a forma mais adequada, melhor dizendo, a mais pontual, confesso - mas aí, aí haveria algo de tamanha frieza de minha parte que, por si só, tratar-se-ia de única incompatibilidade com o intuito de tamanhos dizeres -, esta não é a forma mais pontual para se iniciar uma carta (um cumprimento, uma apresentação formal). Mas, não obstante, formalidades jamais me ditaram rumos e condutas. Um comportamento inadequado, é bem verdade... Pois bem. Conto com o pouco conhecimento - ou o conhecimento suficiente, creio que daria no mesmo - que você possui sobre mim. E assim, assim espero que entenda de fato a ansiedade e a urgência presentes nestas linhas que escrevo (constantes inconstâncias).
Um dia de chuva. Sim, minha amiga, um dia de chuva. Intensa, rítmica, frequente. Daquelas chuvas torrenciais que causam, ainda que haja tão somente ínfimos aborrecimentos a ser lembrados, substantivos abalos tanto introspectivos quanto superficiais. Um dia em que não se sabe de fato o que fazer, para onde ir etc. Fica-se apenas juntando e conferindo ideias e tarefas, coisas das quais se é impossível escapar - essa maldita chuva! O quintal sujo e encharcado, paredes completamente úmidas, roupas inúteis no varal, montes insuportáveis de lixo na cozinha e no banheiro, a despensa vazia, contas a pagar... A chuva. Nada além desse indesejável fenômeno que insiste deselegantemente em teimosias e insensibilidades. Intolerância, pois! Corre-se para o quarto, olha-se no espelho e se depara unicamente com desagradáveis descobertas. Ah!, minha incrível amiga... Tantas pendências, tantas perturbações - tanto tempo ainda a esvair... E o que se pode fazer a respeito? Aguardar, tão somente aguardar... Segundos, minutos, horas inteiras - instantes fadados à inoperância. E tudo, absolutamente tudo por causa da chuva. Parece que não haverá mais fim! E o caminho se encontra intransponível, um hiato;  não há mais nada além de angústia e impaciência. Perde-se o juízo, ganha-se devaneios. Os sonhos, os tais sonhos - tão temíveis e perigosos!... E um arco-íris que jamais anunciar-se-á. Sem mais nem mais. (E é assim, estimada amiga, é justamente assim que me sinto neste momento ímpar. Só que não está chovendo agora - trata-se de você, caríssima amiga. Sim, você, apenas você... Você e essa minha iníqua e pungente espera.)
Pois bem. Parte de meus sentimentos se manifesta nestas linhas - ainda que pobres, desprovidas de tom e sensualidade. Mas, não obstante, falta-me outra breve explicação. Assim feito o início, não sei bem como formalizá-la - talvez seja minha ineloquência atuando em horas tais. E o pior, em tais horas, por mais importante que seja a laconicidade, é isso exatamente o que não consigo atuar com excelência - o ser breve, sintético. As mãos tremem, a caneta vibra - ela simplesmente não respira... Os olhos, amiga, os olhos entram num transe raro e profundo, e minha mente se torna incapaz de contê-los - pensamentos, teses, impressões etc. E sempre, sempre me situo um passo a frente de tudo aquilo que faço e absorvo, sem exceção - principalmente agora, neste momento (mais uma vez).
Por quê? Ora, minha amiga, creio eu que haja aí, ainda que não passe tão somente de uma hipótese, acredito mesmo que advenha dessa indagação o real ensejo para minha explicação. A desculpa que usarei aqui para justificar tal estado de espírito me é de grande valia - por favor, não ria de mim, grande amiga... A angústia de discorrer sobre a própria angústia, digo eu! O fim em si próprio, a obrigação e a impossibilidade de cumpri-la - a sua antipatia afinal. Não sei, é possível que eu esteja me perdendo novamente... Perdão, perdão! Minha cabeça dói pelo simples ato de pensar em tamanha explicação - ah!, eu sou mesmo um homem ridículo...
Falta-me, sim, algo. Vejo-me feito andarilho de memórias... Memórias e sonhos. Passado e futuro, minha amiga. O que se foi - e que apenas agora, quando não há mais qualquer espécie de retorno, apenas agora se impõe feito necessidades inadiáveis perante todas as outras questões, inclusive as eternas -, o que se foi de fato e o que poderá vir a ocorrer - sabe-se lá, sabe-se lá sob quais modos, caríssima amiga! Principalmente aquilo em que se gasta os mais empenhados esforços para que se torne presente, real - eles sempre serão insuficientes. Tudo em vão, tudo em vão! Nada criar-se-á; nada acontecerá. Mas, não obstante, a esperança, essa pústula incorrigível, amiga, sim!, essa mesma, a esperança...  Ela inflexivelmente tomará partido a favor das ilusões e das fantasias. Temerosamente, irremediavelmente, minha querida amiga... É inevitável: continuar-se-á eternamente desejando o viver, e o que tão somente se consegue fazer é perder tempo - por toda a vida, por toda a vida!... (Trata-se da única verdade que encontro diante de mim.)
  O futuro. O futuro inexiste - a não ser através desses sonhos que, cedo ou tarde, encerrar-se-ão em decepções. Por vezes, o alívio se dá como anúncio, é bem verdade. Mas, não obstante, nas últimas semanas só me vêm dissabores, pois jamais, minha amiga, jamais a realidade sob meus olhos mostrar-se-á mais interessante e inspiradora do que quaisquer devaneios que porventura eu possa criar. Portanto, o futuro, doce amiga, este não me é encorajador. E a ansiedade, e a espera, e a angústia, e aquele algo que me falta; tudo me permite apenas o protesto - e mais nada, mais nada! E assim, sem mais nem mais, e assim meu instante se faz por voraz, perturbador, melancólico. E o sentido e a razão insistem tão somente nas dissonâncias - eles sequer parecem de fato existir...
Mas, não obstante, resta-me o passado. Ah!, o passado... Deste sou capaz de separar raríssimas datas, se não alegres, saudosas. Um dia de sol, uma trégua de toda a miséria, ocasiões ímpares de instantâneas felicidades. O arfar frenético de um cachorro, uma noite de esperanças, luzes, sons, movimento - um gesto, uma dor, um sentimento compartilhado. Boas recordações afinal. Momentos espaçados, despojados de nexo e motivo. Subjetivos. Distintos, memoráveis; banais, venturosos. Apenas dados, informações perdidas em uma história sem graça. Tão raros - e tão comuns, minha amiga, tão comuns... -, tão raros que  tornar-se-ia impossível desenhar um ser, uma identidade de verdade a partir deles. No entanto, uma explicação. Ainda que a ordinariedade deste ser seja irrefutável, por mais que não haja elegância nenhuma em registros tais, uma explicação há. Sim, incomparabilíssima amiga! Um elo; inefável, mas um elo. Uma justificativa. Uma luta - invencível, admito. Alguém diferente de mim, alguém singular. A matriz, a arte-final. Uma imagem sublime, uma inata utopia. Uma, uma, bem, como dizer, minha amiga... Você - sim, alguém como você. (Ninguém mais além de você.)
E isto é tudo. São palavras inúteis, eu sei, linhas inconvenientes que servem tão somente para lhe manchar os olhos. E os interesses, também não os há. Novidades, desconheço. Apenas uma necessidade, talvez a única necessidade, o único porém que me impossibilita de puxar o gatilho (eu não estou sendo poético, minha amiga, em nenhuma palavra desta carta consegui sê-lo), a singular finalidade de minha sobrevivência se trata em alcançar alguma certeza em seus sorrisos. Então, como quem finge nada querer, pergunto-lhe mais uma vez - conquanto sem a promessa de ser esta a última vez. Pergunto-lhe o que suponho já estar presente em suas próprias desconfianças, vindo de mim - a única pergunta que insisto em lhe fazer há tanto tempo. Ainda que não possua direitos de lhe exigir alguma resposta, por mais que a minha insignificância - e esta é grande, ah!, como é grande, minha amiga... -, por mais que esta seja perturbadora e insignificante, perguntar-lhe-ei. Eu não temo a ousadia, mas a resposta apenas... Por isso, bem, e não há nada mais que importe em meus pensamentos agora - agora, antes e depois... E agora, justamente agora, começou a chover! Oh!, deus, por deus! A chuva... E então, você é feliz? É feliz, diga-me... É isso e tão somente isso o que preciso saber. Uma noite, ainda que sob tamanha chuva, uma noite inteira de inquietude por sua felicidade! E então, então minha espera findar-se-á - e sairei correndo pela chuva, minha antiquíssima rival, sob água e lágrimas, de coração pulsante, riste, destemido. E assim afundar-me-ei em meus lamentos - não mais tão lamentáveis como deveriam ser -, minhas ânsias, meus anelos, pois nada, nada importaria mais!... Agora, responda-me. Ou melhor, não! Não diga palavra alguma. Conceda-me o conforto da dúvida - ou a esperança, a esperança, é bem verdade! Pois eu não viveria sem a sua felicidade; já a minha ignorância em nada vale. Nada! Não, minha senhora, não responda, por favor; deixe-me viver com tal alento. Mas, não obstante, diga que é feliz. Minta se preciso for... E por um breve, raro e ínfimo momento, faça-me também feliz - ainda que eu não possua ciência nenhuma a respeito. Pois não é esta de fato a residência da esperança - o não saber? Muito bem. Apenas assim, minha exemplar amiga, apenas assim mediocridades serão capazes de seguir os seus ridículos caminhos - pois para algum lugar é preciso ir! E isto, isto é mesmo tudo. Sem mais nem mais, despeço-me. (Não antes sem ousar imaginar... É feliz?)
Oh!, dor de cabeça!, oh!, chuva que não para... Amanhã, só o amanhã me resta afinal. E amanhã, amanhã tudo estará resolvido!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Minha Trilogia (out/ dez 2009)

Eis, pois, inaugurado. Agora, senhores, ao trabalho, ao trabalho! - apesar de não se tratar exatamente de minha profissão propriamente dita... Quiçá um dia, um dia isto se torne tamanha primazia.
Como já prometido perante a mim mesmo, a princípio postarei três textos que escrevi neste último trimestre, com intuitos já bem definidos. Um conto (Carta) e duas crônicas (Discurso, Fim De Ano) que sintetizam algumas ideias contíguas, nos quais busco uma identidade, uma marca enfim. Certos cúmplices olhares possuem há algum tempo ciência de parte destes ensaios, e a concretidão de seus dizeres a respeito me foram sumamamente caras. Mas, não obstante, esperaria vê-los igualmente aqui, registrados neste espaço. Quanto aos demais, a expectativa é a melhor possível - mesmo que seja um e tão somente um inusitado par de olhos a haurir palavras tais!
(Todo mundo possui uma trilogia... Muito bem. Por que não eu?) Minha trilogia remete a sofreguidão, inércia, malogros e um novo começo. Sim, pois, sem a teoria de uma segunda origem, para onde realmente ir? Porque para algum lugar - e isto, senhores, isto é extremo, trata-se da mais íntima razão de ser -, para algum lugar se deve ir sempre. Pois se a cadência de nossas vidas se mantiver ausente de caminhos e propósitos, para quê viver, insisto, para quê viver?
Pois bem. Sem mais adiantamentos, senhores, sem mais adiantamentos de minha pessoa - ah!, como é difícil tolher-me a inquietação...

sábado, 9 de janeiro de 2010

Meio Copo Vazio

Não sou bom em começos. Ainda que o anelo seja grande - e, creio, senhores, creio eu que esteja justamente aí a raiz dessa capital questão residente em meus vestígios -, por mais que eu tenha ciência de minha capacidade em despertar intrigas e curiosidades, mesmo assim, sou muito mal em começos. Um afã incontrolável me toma por completo, feito ar que preenche indistintas vacuidades, e a vontade de documentar todas as minhas ideias num único e decisivo espaço de tempo se faz presente. E isto, senhores, isto ocorre freneticamente, como se minha identidade dependesse exclusivamente de tudo aquilo que se passa em minha cabeça - aos diabos, senhores, aos diabos... Não é bem verdade que seja exatamente dessa maneira? - e, principalmente, de minha explicação. Ah!, minha eterna explicação... Vivo procurando justificar-me; a mim mesmo, ao mundo, a quem for e a quem mais quiser. E, como se não houvesse sequer outro amanhã, movido por tal anseio inflexível, concedo um início, o meu início, senhores... Um início equivocado, trôpego, confuso, dual. Mas, não obstante, sincero, corajoso, sagaz. E assim me apresento; assim mesmo, feito minhas palavras decretadas aqui nestas risíveis linhas - sem tom, prolixo, ambíguo, aflito. Feito um meio copo vazio (ou seria um copo meio vazio?)... Ah!, o diabo, tão somente o diabo sabe muito bem de toda essa infausta filosofia!
Princípio certo é que eu ainda desconheço o imo de minha razão. Escrever, viver - viver e escrever. Acredito que seja por aí o caminho de minha explicação, a finalidade de tal espaço... Pois bem. Uma vontade iminente de trazer à tona todos os meus planos, ambições, interpretações etc. Uma necessidade permanente de lamentar angústias e verter melancolias. Um revolto desejo de descobrir semelhantes nesta luta inefável contra os demônios internos. E um empenho, senhores, um empenho sincero em compreender todos esses sentimentos absolutamente inexplicáveis. Senhores, meus caríssimos senhores, neste momento atual, falta-me a fé, o olhar clínico para os atos impossíveis, os tais milagres - aqueles que nunca deixarão tamanha fantástica condição. O que me resta, digo-vos, o que me resta é tão somente o presente, o momento vigente, e nada mais além de meu conhecimento (meus pés, meus braços, minhas vísceras). E, é bem verdade, uma recente e irremediável memória de tanto tempo desperdiçado - por deus!, como o ordinário me consome sangue e reflexões aos montes, aos montes...
Quiçá o acaso ainda seja hábil em vos conduzir a caminhos e encontros repletos de esperança e aprazimento. O meu ânimo inclina por tal ensejo em vossas vidas... E aí, senhores, aí há nenhum traço de desdém - trata-se de um apetite espontâneo, cordial, franco de minha parte. Desejo-vos todas as surpresas das quais fui preterido. Porém (e aqui, neste instante, minha devida e previamente apresentada falta de tom, de forma inevitável, acaba por atropelar qualquer fieira existente nestes pobres períodos - mil perdões por tamanho desatino, meus digníssimos senhores!), porém tal ingenuidade, não mais a possuo. E o que me fez perdê-la de fato? Numa palavra, as frustrações e as privações advindas da opulência concebida pela ambígua divisa entre crenças e ignorâncias  - e as promessas, essas nefastas promessas! Vá lá, vá lá, pois as linhas rijas de minha fronte e meus precoces cabelos branquejados já estão fartos de tamanhas ilusões... Que fiquem vós com todas elas! Eu quero é agir, senhores, entornar tudo o que ainda resta dentro desse grande cálice. E por todo o prazo que ainda me persista, digo, e não menos que isso, não menos que isso!
Pois que se inicie tal anunciada contenda! É isso e unicamente isso o que desejo - mais do que um desejo, um ardor, um transporte de minha alma... A escolha de me ausentar perante tudo o que se sucede ao meu redor não mais me é benquista - nunca o fora, é bem verdade; tratava-se tão somente de uma indesejável constância. E os dias e as palavras serão como rumos e passos para mim... Pois bem! Eu, pleno e consciente, desfrutando daquilo que se encontre ao alcance de meu saber e vontade. (Eu, seguro de meus atos, à cata do que me apraz.) Ostentando apenas imagens remanescentes de outrora - de tempos de intangíveis sonhos e de insânias irrevogáveis. E que nada mais sobreviva de meu passado, morto e negligenciado! Só e seguro, ainda que notoriamente ansioso - clamando pelos louros da perpetuidade de meus improváveis grandes feitos -; livre do jugo da fé. (Ensaios postos em prática...)
Mas, não obstante, fadado à eterna insatisfação. Assim como Fausto, o gozo e o júbilo nunca fartar-me-ão. E por quê? Pelo orgulho, pela vaidade... Por um maldito de um meio copo vazio! O meu estado nato rejeita a resignação, a homeostasia, a aquiescência. Ah!, tanto tempo em vão, senhores, tantas renúncias tomadas! E o que ganhara no final? Fracassos, fracassos e solidão - a intrínseca solidão. Sentar-se numa cadeira e ver os ponteiros girando,  contorcendo-se e me atacando. Deitar-se ouvindo ao longe a toada ébria da boemia - tudo perdido! Tantas ausências... Grilhões e censura, pena e aflições, desespero, e por fim, por fim solidão tamanha. Não, senhores, não!... Por mais que a felicidade não me seja permitida, eu recuso semelhante condição. Trata-se de meu protesto. A tudo aquilo que me acorrenta e oprime... A toda ordinariedade, vocifero minhas imprecações. Longe de mim, longe de mim, eu digo! Eu, eu, muito bem... (Senhores, por que rides?) O diabo, o diabo que vos carregue!
Ah!, como me é espinhoso esse subsolo, meus senhores... Mas um dia, um dia tudo estará resolvido!