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segunda-feira, 19 de julho de 2010

O Fim

Trata-se do tempo o significado da vida. A dualidade, ações, decisões, renúncias, aprendizagem. O tempo é o nosso instrumento, feito um papel em branco - é nele que despejamos os sentidos, a identidade. O papel se torna nossa obra, nossa face; no entanto, algo finito. E ainda que o conservemos intacto, ainda assim, tal tornar-se-á velho - a candura indubitavelmente se desfaz ao longo dos anos. A diferença, a singular diferença que reside nessas condições, é que a ausência das manifestações e de movimento tão somente nos oferece passividades. Um mundo desperdiçado; devaneios, lamentos, anelos, tudo aquilo que nos impede o agir.
Conquanto os anos se vão - a inevitabilidade da mortalidade. Vinte deles, talvez mais... Se ínfimos ou bastos, uma questão de situação. Não importa. O tempo se expande, condensa, dilui, adeja etc.; séculos se vestem de um simples gesto, segundos se mostram complexas eternidades. Tal faz as vezes de vilanias, e por vezes tantas o próprio nos representa soluções. Hoje, criança; antanho, enfermo. Agora, uma bela mulher - amanhã, o desgaste, inconveniências. Cabe ao nosso pensar - nossas mãos, nossos pés - administrar a pena que guia e dá forma a esse grande papel em branco que recebemos. Na verdade, o tamanho é irrelevante; as palavras é que são a verdadeira diversidade.
Mas, não obstante, minhas palavras há muito vieram a ser um malogro. E neste mesmo papel, já gasto em situações de outrora, não se permite o ato de corrigir - restam apenas parcos espaços a preencher. Minhas palavras não surtem mais efeito. Talvez tamanha estranheza de minha parte seja o motivo desse estado, quiçá tais jamais ostentaram quaisquer diferenciais. Porventura também elas componham o senso comum - esse odioso! Afinal a verdade é tão só uma, e está diante de meus olhos: tudo se perdeu e nada mudará. Ao diabo!, desinteressa-me o longínquo, o improvável e o inadmissível. Eu não sou mais um bom rapaz - apenas um senhor de cabelos descuidados e por esbranquiçar...
O fim. Ainda assim, um derradeiro alento. Uma última palavra. Uma doce e melancólica lembrança. Uma promessa; direções opostas, adversidades, ardores. Uma centelha, um feixe de luz - por mais distante e incrível que seja, uma esperança. Uma razão e um motivo para seguir o caminho. Um caminho. É isso, é simplesmente isso. Um obrigado; um muito obrigado e nada mais.
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Será este mesmo o fim que desenhaste para mim?

4 comentários:

Natália disse...

O nosso caminho, a gente que traça! ;)
Pode ter certeza, o fim que está desenhado pra você, não é como vc pensa! =)
Estou com vc pra tudo, viiu?
Beijos da sua não tão nova amiga! HAHAH

Natália ;*

Michele Lima disse...

Lindo e preciso como sempre!

Unknown disse...

Engraçado, o fim pra mim sempre simbolizou uma dualidade. Nunca o fim isolado, mas sempre como prelúdio para o recomeço. O fim e o recomeço. Mesmo havendo a mortalidade, os anos que se esvaem, acho que o fim é sempre prelúdio para algo novo, para novas possibilidades. E nem por isso é menos triste. Ótimo texto, continua finíssimo!

Marina da Silva disse...

AJ,
Muito bom este "tempo" para lamentos. Lembrei-me sonetos de Shakeaspeare, não pelo formato, mas pelo mesma questão da efemeridade, da corrupção levada a cabo e a revelia de nossas vontades, do tempo sobre as coisas. E olha a "imortalidade" presente nas palavras... Desde "Flores amarelas" estou gostando D+ dos seus escritos, tem seu DNA. Abraço. Marina.