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quarta-feira, 17 de março de 2010

Mais Do Mesmo (um conto do capeta!)

Numa palavra, em meio a tanta anormalidade uma ou outra aberração extra tão somente é bobagem! E assim começa - e termina, ora pois! - este episódio em minha desventurada existência; fato corriqueiro, chavão de inúmeros que, assim como eu, vivem frustrados com a regularidade da vida ordinária. Hoje travei conhecimento com o grande ídolo. Impossibilitado estou de o nomear “pemba”, “anhangá”, “cabrunco”, “canheta”, “cão”, “cujo”, “dianho”, “malino”, “romãozinho”, “pé-de-cabra”, “tinhoso” etc. e o diabo a quatro!, já que sempre ouço os termos prolixo, faltas de tom e eloqüência dirigidos à minha pessoa quando lanço mão de certas particularidades. Portanto, hei de ser simples - malditos, todos vocês, eh eh eh!
O diabo em pessoa veio visitar-me...
“Oh, mas que novidade!”
Sim, senhores, é bem verdade, isto para a maioria aqui não é sinônimo algum de ação, dinamismo ou o quê - unicamente o trivial, quiçá o obrigatório! Vá lá, vá lá, permitam-me, no alto de minha insignificância, discorrer em palavras a minha experiência... E com brevidade, eu lhes prometo!
Pois bem, sem maiores introduções, a peleja se iniciou assim: cá estava eu a lamentar dilemas, anelos, estreitezas, desencontros, limitações, isolamentos - e a falta de dinheiro, fama e reconhecimento, outra obviedade! -, e então, num átimo imperceptível, surge-me tal bizarro indivíduo, ainda que suntuosamente bem vestido. A perna de cavalo, os chifres, a pele vermelha, o olor sulfúrico etc., e tudo o mais que todos vocês, ilustríssimos senhores, já perderam os cabelos de saber - mas nunca o interesse, quá-quá-quá! Sem nenhuma cortesia, arrancando-me a porta de entrada, veio e sem mais nem mais, perguntou-me:
- Ora, seu infeliz, lume do fracasso humano! Que diabos você tem contra meu respeito? O que diabos eu lhe fiz para tanta desaprovação? Vá, pois, que eu não tenho o dever de agraciar a todos com minha presença e ideais, mas você, você!... Aos diabos, você e sua inútil opinião! Passar bem!
E tal qual adentrara em meus parcos domínios, esse riquíssimo fidalgo, altivo, elegante, deixou-me sem direito sequer de réplica. Quanta arrogância, quanta falta de originalidade!... Sinceramente e francamente, eu esperava muito mais desse serzinho que lidera e inspira não menos que uma caterva ávida por sobrenaturalidades! Qual é? Não passa de mais um a reclamar da vida alheia, eh eh eh!
Mas é sempre assim: a expectativa, boa ou ruim, exacerba por demais a realidade. E mais uma noite comum me tomou de assalto - nem o diabo, nem o diabo fora capaz de enaltecer a minha essência! A total ausência de ação em meus atos, dizeres e pensares, tudo permanecera no mesmo lugar...
E a mim restar-me-ia tão somente a insônia costumeira, a intrínseca vontade de me explicar, explicar-me até me exaurir as energias. Mas não aqui, não para esses ouvidos e olhares; pois aqui, meu único direito é a laconicidade.
Mas, não obstante, amanhã, amanhã tudo haverá de ser resolvido; vocês, o diabo, a falta de tom - e os meus contos inacabáveis!...

P.S. Texto originalmente postado na comunidade (orkut) Novos Escritores do Brasil. O tópico do texto, assim como todo o enredo prévio da criação do próprio, ainda se encontra em tal comunidade - é pelo menos o que imagino, eh eh eh!

3 comentários:

Unknown disse...

HAHAHAHHAAHHA, estava eu aqui, reclamando do tédio, do vazio, e da falta de perspectiva, então, como por acaso, a ordem aleatória do media player me põe I Get It, do Chevelle, pra tocar, e me lembro de você quase como reflexo. Penso: "Ahhh, vamos ver se ele postou mesmo um novo conto", e não é que postou mesmo? E no começo da leitura eu estava achando, achando e tendo a quase certeza, e seu conto ia enveredar pelos caminhos de uma outra história muito conhecida, aqueeela do jovem que, chorando misérias, é visitado por ninguém menos que o próprio Mephisto. Lembrei de Fausto, sim. Mas qual não foi minha surpresa com o desfecho da história. Ah, mas que diabo, tão mesquinho, tão humano quanto nós! HAHHAAHHAHAHAHHAHA, é verdade, é verdade, adooreeei essa concepção, Sonny, parabéns por mais essa grande sacada!

Marina da Silva disse...

Que lindo e que inveja (das ruins, pois não acredito em inveja que seja boa.kkk) desta sua escrita primorosa, ardilosa e elegante. Caro mio, ao diabo com el diablo! Continue nesta trilha e deixe estes sentimentos aflorarem. Leio você e penso nos clássicos, então acho isso bom, acho muito bom seu trabalho. Em quem pensei? Goethe e nas obras magistrais Fausto e Werther. Parabéns e abraço.

Michele Lima disse...

Mas uma vez me espanto com a sua facilidade de escrever. Quando estamos lendo, parece que flui de uma maneira tão natural que o realismo fantástico em nenhum momento é questionado. Parabéns Ângelo, este até o momento é um dos meus preferidos.